Walter Borzani foi o segundo presidente da FAPESP. Membro do Conselho Superior desde 1969, ele era vice-presidente da Fundação (1971-1973) quando assumiu o cargo, entre 1973 e 1975, substituindo Antonio Barros de Ulhôa Cintra. Engenheiro químico formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Borzani era professor catedrático de bioquímica industrial.
Durante sua gestão, começou a ser implantado o Programa Radar Meteorológico de São Paulo (Radasp), projeto que tinha como objetivo aprimorar as previsões de variações climáticas e favorecer a programação de cultivos e colheitas. Em 1974, teve início a instalação de equipamentos no Instituto de Pesquisas Meteorológicas de Bauru, posteriormente incorporado à Universidade Estadual Paulista (Unesp). Pesquisadores de Bauru e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos, colaboraram em estudos sobre detecção de tempestade a distância, estrutura de tempestade de verão e linhas de instabilidade no inverno usando o novo radar. Isso possibilitou que a Rádio Eldorado começasse a divulgar informações sobre previsões de chuva obtidas pelo radar, favorecendo o planejamento e a colheita de cultivos agrícolas como o da cana-de-açúcar.
Nos anos seguintes, o Radasp se expandiu, incorporando equipes do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) da Secretaria de Saneamento e Energia, da Escola Politécnica e da Escola de Engenharia de São Carlos (USP), da Escola de Engenharia de Ilha Solteira (Unesp), com estudos sobre chuvas de verão e camadas da atmosfera com o uso de radiossondas, balões, planadores e aviões. O projeto contou com a colaboração de grupos de pesquisa do Canadá, França, Estados Unidos, Portugal e Reino Unido. Um segundo radar começou a funcionar em 1986 na barragem do DAEE em Ponte Nova (MG) e, em 1989, entrou em operação o Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas (Citiagro), em colaboração com o Instituto Agronômico de Campinas. Em 2013, teve início a operação de uma rede de estações de sistemas de navegação por satélite.
Pioneiro da biotecnologia industrial
Borzani é considerado o introdutor da engenharia bioquímica no Brasil por seus estudos sobre fermentação alcoólica, em colaboração com pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP. Sob sua influência, foram constituídos grupos de biotecnologia industrial na USP, na Escola de Engenharia Mauá, na Faculdade de Engenharia Industrial, no IPT e na Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental.
Publicou, no Brasil e no exterior, mais de 190 artigos voltados, principalmente, ao estudo da cinética de processos fermentativos e tecnologia de fermentações. Foi editor e coautor do livro Biotecnologia, em três volumes, publicado em 1975. Um quarto volume foi adicionado em 1983.
Borzani aposentou-se em 1982, mas continuou trabalhando como pesquisador na Escola de Engenharia do Instituto Mauá de Tecnologia e como consultor da Bionext Produtos Biotecnológicos, em São José dos Pinhais, no Paraná. Faleceu em fevereiro de 2008.
Um "cliente" da FAPESP
Em 1987, em entrevista publicada no livro FAPESP 40 anos: abrindo fronteiras, organizado por Amélia Império Hamburger, Borzani se via como “usuário” ou “cliente” da FAPESP, instituição que, em suas palavras, “teve papel decisivo” no desenvolvimento da engenharia bioquímica em São Paulo, área na qual ele trabalhava desde 1948. Borzani disse, citando o apoio da Fundação à montagem de um laboratório moderno: “Até então não se dispunha de equipamentos adequados para poder levar avante não só trabalhos de pesquisa de caráter tecnológico como, também, as atividades didáticas de graduação e pós-graduação”.
Também contou com o apoio da Fundação quando começou a trabalhar na Escola de Engenharia Mauá. “Conseguimos um significativo apoio da FAPESP para montagem de laboratórios de engenharia bioquímica.” E acrescentou: “Se não tivéssemos tido o apoio da FAPESP naquela altura, como o professor Alberto [Alberto Carvalho da Silva, então diretor científico da Fundação], aproximadamente em 1968, não teríamos conseguido dar essa arrancada neste campo da biotecnologia industrial, tanto na Politécnica, quanto na Mauá. É evidente que depois procuramos diversificar as agências e fontes de auxílio e apoio à pesquisa, indo ao CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. Mas a peça-chave foi realmente a FAPESP, que não só incentivou como foi a principal responsável pela formação desses laboratórios”.
Fontes:
HAMBURGER, Amélia Império (Org.) FAPESP 40 anos: abrindo fronteiras. São Paulo: EDUSP, 2004. 549 p.
SILVA, A. C. da. Atividades de fomento à pesquisa e formação de recursos humanos desenvolvidas pela FAPESP entre 1962 e 2001. São Paulo: FAPESP, 2004. p. 25
Garra e improviso, em 40 Anos FAPESP, revista Pesquisa FAPESP, junho de 2002