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Oscar Sala: o físico que enxergou o futuro


O físico Oscar Sala foi vice-presidente do Conselho Superior (1968-1969), diretor científico (1969-1975) e presidente da FAPESP (1985-1995). “Participou de todas as instâncias de influência e deliberação”, resumiu Amélia Império Hamburger, na Nota Biográfica que introduz a entrevista de Sala publicada no livro FAPESP 40 anos: Abrindo Fronteiras. 

Como diretor científico e presidente da FAPESP, Sala foi peça-chave na implantação de programas que marcaram a história da Fundação, como o Bioq-FAPESP, em 1970, e a Rede ANSP (Academic Network at São Paulo), no final da década de 1980, que conectou o Brasil à internet.

O Programa para o Desenvolvimento da Bioquímica (Bioq-FAPESP) foi uma aposta da Fundação no desenvolvimento de uma área emergente da pesquisa mundial. Garantiu financiamento a projetos de pesquisa e à montagem de laboratórios, contribuindo para a formação de novos grupos de pesquisa como, por exemplo, o de Carl Peter von Dietrich (1936-2005), da Escola Paulista de Medicina (EPM), que desvendou a estrutura e desenhou heparinas de baixo peso molecular, capazes de atuar como anticoagulantes. Já o grupo de Walter Colli, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), demonstrou que o Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença de Chagas, era repleto de açúcares em sua superfície, identificou uma molécula nova, composta por açúcares e lipídeos, e estabeleceu parte de sua estrutura. 

No período de 1970 a 1978, 65 alunos de pós-graduação ligados ao Bioq-FAPESP receberam o título de doutor e 43, de mestre, e hoje ocupam papel de destaque na pesquisa nacional, entre eles Helena Nader, vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) – que, desde 2020, lidera projeto de pesquisa que busca entender o papel da heparina na COVID-19 –, Jorge Guimarães, que presidiu a Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes) entre 2004 e 2015 e que, atualmente, preside a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), e Eloi Garcia, ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz. 

O programa Bioq-FAPESP funcionou também como um laboratório de experiências que deixaram marcas no ambiente das universidades e viriam a inspirar novas estratégias de estímulo à pesquisa da FAPESP, conforme reportagem publicada na revista Pesquisa FAPESP. 

Na presidência da Fundação, Sala encampou a ideia de conectar as universidades e as instituições de pesquisas paulistas a laboratórios no exterior.  “Visualizei a importância da comunicação que os cientistas teriam através daquele computador, a evolução que a ciência poderia ter, a rapidez com que as informações de outros países chegariam ao Brasil e quis contribuir”, disse Oscar Sala, em entrevista ao site do Núcleo de Apoio à Rede Acadêmica (Nara) em 2006.

A iniciativa resultou na criação, em 1988, da Academic Network at São Paulo. Construída para atender as três universidades estaduais paulistas — a de São Paulo (USP), a de Campinas (Unicamp) e a Paulista (Unesp) —, a rede rapidamente abriu caminho para a entrada da internet no Brasil.

A rede ANSP foi a primeira da América Latina e a primeira do Brasil a assegurar comunicação via correio eletrônico e acesso a bases de dados nacionais e internacionais. Além da prestação de serviços à comunidade acadêmica, a Rede ANSP ajudou a edificar os pilares que sustentariam, mais tarde, programas de pesquisa como o Genoma-FAPESP, arquitetado para funcionar no formato de consórcio de institutos virtuais (Para mais informações acesse Pioneirismo Digital, o 3º fascículo do livro FAPESP 60 anos Ciência, Cultura e Desenvolvimento).

Italiano naturalizado brasileiro, Sala nasceu em Milão em março de 1922. Ainda criança, instalou-se com a família em Bauru. Em 1941, enquanto cursava o Colégio Universitário da Escola Politécnica da USP, conheceu o físico Gleb Wataghin no Simpósio Internacional sobre Raios Cósmicos e trocou a engenharia pela física. 
Dedicou-se à pesquisa experimental de raios cósmicos com Wataghin, Marcello Damy e Giuseppe Occhialini; participou de experimentos nas universidades de Illinois e Wisconsin e, em meados de 1950, integrou o grupo responsável pelo acelerador eletrostático que foi construído na USP. No final dos anos 1970, dirigiu a montagem do Acelerador Pelletron. 

Professor emérito do Instituto de Física da USP, Sala foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Física (SBF) e seu primeiro presidente. Presidiu também a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação Interciência das Américas e a Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp).

Faleceu em 2 de janeiro de 2010, aos 87 anos de idade. 

Referências 

Oscar Sala, pioneiro da física nuclear no Brasil. Shozo Motoyama; Ana Maria Pinho Leite Gordon

FAPESP 40 anos: Abrindo Fronteiras. Amélia Império Hamburger, Edusp, 2004

Novos Paradigmas

Morre Oscar Sala, presidente da FAPESP de 1985 a 1995

Pioneirismo digital